A partir da sua obra “Visão do Paraíso”, extrairemos alguns elementos investigados por Sérgio Buarque de Hollanda na construção imaginária e histórica do Brasil e seus colonizadores no qual o país foi associado ao mítico-religioso jardim do éden, e como estes elementos foram e ainda são importantes na construção da história e da sociedade brasileira.

Junto a isto, o “homem cordial” é também um eixo fundamental de base para se compreender as relações sociais em nossa cultura, bem como a nossa relação com a família, Estado e assuntos políticos e públicos.

Dando sequência a este pano de fundo imaginário sobre o Brasil, com Marilena Chauí veremos os fundamentos para a criação do poderoso mito da não violência na história do nosso país, uma história que seria feita sem sangue e de como a questão da violência possui elemento simbólicos e psíquicos para além da criminalidade e, por fim, a idéia de que sociedade brasileira tal como se compõe forma uma rede autoritária que atua contra ela mesma de maneira repressiva, ao contrário da idéia de uma sociedade pacífica, ordenada e alegre.

O conceito de ressentimento elaborado pelo filósofo alemão Friedrich Nietzsche será apropriado pela psicanalista Maria Rita Kehl como um sintoma social moderno que permeia a subjetividade contemporânea e poderemos hipotetizar como um prolongamento dos elementos abordados anteriores.

Realizando análises do ressentimento nas dimensões sociais e políticas do contexto brasileiro, em que a partir de elementos de pureza moral, indivíduos não se reconhecem enquanto sujeitos portadores de responsabilidades pelas suas ações, delegando a culpa seja no Estado e a outros, promovendo a tristeza, ódio e desigualdade social.

Após abordar alguns elementos chaves que constituem o mosaico da formação nacional como o imaginário edênico, o cordialismo, a violência e autoritarismo presentes na sociedade brasileira e o ressentimento como um elemento psíquico moderno presente no social e política brasileiras, veremos com o conceito de Bader Sawaia como o sofrimento e os afetos são categorias fundamentais para se compreender a vivência e experiência dos sujeitos no campo social e político no qual estão inseridos, a categoria do sofrimento ético político permitirá abranger questões raciais, de gênero e sexualidade nas relações com a violência e autoritarismo, buscando no próprio conceito as possíveis resistências.

Após todos os elementos chaves apresentados, finalizaremos com uma análise de algumas passagens e personagens do livro Grande Sertão: Veredas de João Guimarães Rosa como um “mapa alegórico” do Brasil nos dizeres de Willi Bolle e um “projeto literário de evidenciar a raiz autoritária, violenta ou parternalista” que abrange a história social e política do Brasil.

Os líderes Joça Ramiro, Medeiro Vaz e Zé Bebelo se revelam como tipologias “ideológicas” no cenário brasileiro da tensão e contradição entre modernização e uma passagem arcaica, assim como Riobaldo e Diadorim realizam as travessias e veredas tortuosas do sertão chamado Brasil.